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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Aparecida

Não venho com esse post criticar a religião alheia, ou me reter a julgamentos individuais. Está aqui, um retrato simples de um dia, e as conclusões, que como ser pensante me dei a liberdade de ter.
Sábado, 5h20m da manhã, estávamos a caminho de Aparecida do Norte. Não queria ir, não tenho religião, e nem acho proveitoso um sábado assim, mas enfim, o mundo é o das impressões mesmo.
Chegamos, na fila para PAGAR a entrada na cidade dos milagres o que vejo é um parque de diversões, um aquário (como levaram os peixes até lá?) e a igreja enorme. Parece um estúdio de gravação, com vários cenários jogados aqui e ali, ou o Hopi Hari, com suas cidades e seu caro passaporte.
Entramos. A igreja realmente é grande, e fervem pessoas dela, muitas pessoas, de todos os tipos. Mas antes da missa, um pequeno passeio no centro da cidade.
Para chegar lá, é necessário passar por uma enorme passarela, onde muitas pessoas cumprem promessas e a atravessam de joelhos, o meu, andando, já doía. Algumas ruas tem direções, que nem boi no matadouro.
No centro. Juro, que se eu vi um nativo da cidade, ele tava disfarçado de turista. Só há hotéis no centro, e não é exagero, hóteis e lojas, nada mais. Nas lojas, de crucifixos à brincos, de água santa à aguardente. As pessoas se empurram, xingam umas as outras e disputam lugar nos restaurantes, que, as 8 da manhã, já tinha funcionários oferencendo quentinhas.
Voltando para a igreja enorme, de novo aquela passarela, um quiosque onde você compra 600ml de água benta, devidamente engarrafada, outro onde você pode comprar vela de metro, perguntei se era pra deus ver você mais que os outros, me disseram que não.
Na missa tudo lotado, pessoas sentadas em todos os lugares, e a voz do padre vindo de miteriosos alto-falantes. Nos sentamos no chão. As pessoas não rezam , ficam se distraindo com um monte de coisas, o padre fazendo ora ou outra propaganda da TV Aparecida, cada um no seu mundo particular, acordando de seus devaneios apenas na hora do famoso pai nosso.
Depois da missa um passeio pelo resto da igreja, que conta com praça de alimentação, sala dos milagres, onde as coisas mais incríveis estão lá, doadas por pessoas de fé, e um quiosque para encomendar missa. Apesar de não ter religião, tenho falecidos, e a supertição me levou até lá, porém, como não tinha nada a oferecer a Jesus (muita mesquinhice minha), não encomendei a missa, acho que ela não ia fazer ninguém ressucitar mesmo.
De volta à cidade, vamos às compras. Agora vejo nativos na cidade, estão empoleirados no morro, na favela, atrás da feirinha de bugigangas, que, por incrível que pareça é mais diversificada que no centro.
Almoço lotado porém faustoso.
Na sesta a decisão de realizar a "via-crucis", meus joelhos me olham tristes, mas ok. Novamente nativos, mais uma favela, mais uma feira, mas essa cheira a urina.
Chegando no caminho da "via-crucis", muita ladeira pra andar, quinze imagens da história de Jesus, com uma música de dor de barriga santa ao fundo, debaixo do sol das 13h. A última imagem, é no alto da montanha, que dá visao para além da cidade, um cenário natural. Nesse lugar se encontram uma cruz enorme, um tipo de caixão e, é claro, uma lanchonete para você se refrescar.
Depois disso, fim

Considerações:
Foi um dos piores lugares que eu já vi na minha vida, onde exploram a fé das pessoas. Tudo naquele lugar é uma mina de ouro. Praça de alimentação dentro da igreja??? O que vendem lá? Corpo de cristo? Por favor né... Quiosque de água santa, de vela santa, de papel de santo santo, de imagem santa. os moradores da cidade moram na favela, mal vi escolas naquele lugar, as pessoas vivem exclusivamente de comércio, sem sustento intelectual ou fabril. Onde quer que se vá, a fé está nas vitrines, está nas mastigação das pessoas, está nas roupoas baratas que compram na feira, no sorvete de Itu. Vendem, literalmente a religião, e a fé naquele lugar.
Fazendo a tal da "via-crucis", depois de andar muito, simbolizando o caminho de Jesus, no final do caminho, uma lanchonete? Com certeza foi exatamente isso que Jesus encontrou, e ele só ressucitou porque injetaram coca-cola na veia dele, e a cafeína demorou três dias pra fazer efeito. Por favor, respeitem não o meu esforço, a minha fé, porque ela não está naquele lugar, mas a de todo mundo que está ali.
Foi muito interessante ver, que no final do caminho, a compaixão, ou seja lá quais forem as virtudes de um bom cristão, se refletiam nas costelas de dois cachorros aparentemente mortos do lado da cruz, mortos de fome gente! Não faz sentido uma coisa dessa.
Pra mim, a única utilidade de toda essa viagem foi me provar, que, caso exista alguma divindade nesse mundo, ela está além dessas invenções toscas para exploração, ela está além daquela cidade, ela está na paisagem que o alto daquela montanha me proporcionou, de outras montanhas, essas verdes e naturais. A utilidade da cidade, foi destruir a discutível divindade natural. A cidade em si é horrível, suja, poluída, com morros pra todos os lados, morros que antes eram montanhas, que caso os cristão estejam certos, foi deus quem fez. Cade o sentido nisso tudo? Cade deus nas cédulas que são exigidas para que ele goste de você?
Fé não se vende, se explora, e Aparecida do Norte é o melhor de todos os lugares para isso.
Aos que eu ofendi meus perdões, que tenham uma boa estadia a próxima vez que visitarem a cidade.

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