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terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Pão com Manteiga

Ela não gostava de coisas fáceis. Se intrigava com os percalços que deveria percorrer. O que teria que fazer para alcançar? Seria difícil, sem dúvida. Mas era assim que gostava das coisas.
Desculpas simples não lhe mexiam o coração, nem a faziam perdoar. A desculpa era o meio mais fácil de se livrar das culpas, de se sentir bem consigo. E isso era muito fácil. Preferia carregar o peso dos erros, e o amargo da lembrança de que poderia ter feito diferente.
Poucos entendiam o que queria dizer, a julgavam entre o fiasco do sarcasmo e o desespero do riso, mas não era assim. Só não fazia questão de ser entendida.
O pão que queria comprar na padaria, tornou-se impossível. E pensava, entre faminta e cansada, se a dificuldade dos atos não estavam em suas ações.
E as vezes, mas só as vezes, queria conseguir levantar-se de pronto.
Mas o erguer a cabeça, abrir as janelas do quarto, colocar os chinelos e ir à porcaria da padaria na esquina, a afogava. Como conseguiria?
E foi assim, com uma vontade enorme de comer pães, quem sabe até com manteiga, que depois de anos de espera, depois de aceitar o café amanhecido como alento, depois de dar voltas enormes apenas para não encarar a padaria, aquela maldita padaria que nem devia ter pães saborosos, devia na verdade vendê-los murchos e apáticos, devia ter naquelas luzes brancas o holofote da exposição. Ela não queria aqueles pães, não iria se alimentar de pães velhos. Mas como fazer-se entender? Não o conseguia há tempos. E que fome sentia. Que vontade de se saciar, como antes nunca fizera. Se sentir repleta daquela sensação de que nada mais falta, eis a plenitude de suas necessidades! E foi assim, meio cambaleante, completamente apavorada, que decidiu ir comprar pães na padaria.
Sentou a sua mesa, acendeu um cigarro, e pensou que já que iria até lá, poderia comprar mais cigarros. Vestiu-se como alguém que vai à padaria comprar pães, pegou sua bolsa, olhou-se no espelho, ensaiou expressões neutras, ficou satisfeita com os resultados e saiu.
Em dois minutos estava lá. Sabia que iria ser difícil. Gostou desse pensamento. E num ofegar forte entrou, entrou naquela padaria iluminada.
-Por favor, eu quero um pão.
O moço, que a atendia não percebeu nada de anormal. Deu-lhe o pão, a observou ir até o caixa e se esqueceu que um dia ela estivera ali.
Ela pegou seu pão, foi até o caixa, vinte centavos, mas queria cigarros. Pediu cigarros, pagou sua conta e saiu.
Saiu de lá, o pão, agora seu, pesava na sacola que o levava. Queria fingir que era um simples pão, mas ela percebia, cada vez mais, que não o era. Sentou-se em um banco, fumou, e ficou a imaginar como seria lavar as mãos, pegar aquele pão, cortá-lo, espalhar a manteiga que tanto gostava, e comê-lo, simplesmente comê-lo. Pensou se sua fome seria saciada, se conseguiria dormir tranquila por ter ido até aquela padaria e por ter comprado um pão. Que gosto teria? E se depois dele, sentisse fome de novo? E se quisesse comer mais pães? Ele poderia estar murcho como ela imaginou...
Levantou-se sem pressa, pegou sua sacola, que já lhe parecia um fardo e saiu. Andou pela cidade, preferiu ir a pé, apesar da distância. Chegou. Comprou uma passagem, e prometendo-se nunca mais entrar em uma padaria, jogou seu pão fora, e se foi.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

E foi no aperto daquele abraço...

... que percebi, encantada, o sufoco daquele laço.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

1° Diálogo

- Que foi? Por que você está chorando?
-Não é nada...
- O que foi? Fala!
-Eu não sei... É como se você fosse um imenso castelo de areia, bonito em sua majestade. E o vento aos poucos fosse te destruindo, sem que nada pudesse ser feito.
- Mas todo mundo é assim.
- Não, porque eu sou o vento (sussurro)
- O que você disse?
-
-
- Que eu não entendo.
- Não entende o que?!
- Nada
- Não entende nada do que?!
- De sutilrzas... socialidades...
- Mas esse é seu jeito.
- Não foi isso o que eu disse.
- Hã?
- Eu não entendo nada.
- Nada do quê?!
- Não entendo nada de entender.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O negócio é o seguinte

ou me leva nessa valsa, e faça meus pés mais leves que asas, ou esquece esse momento, e da dádiva da dúvida sinta o peso do próprio caminhar.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Sobre mudanças

O interessante das mudanças é que elas sempre dão a falsa impressão, de que uma coisa nova está acontecendo.
Mas no fundo sabemos, que é apenas o recomeço do mesmo círculo.
Não que isso me entristeça, acho que o que mudanças realmente signicam são as expansões ou contrações do círculo.
Agora, o que isso realmente significa, eu não posso responder.
E normalmente só pensamos em mudanças, quando estmos no processo de. É... Acho que estou mudando então.

domingo, 21 de novembro de 2010

A mente do medo mente menos que a do desejo.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A tregua entrega tremores do que há de vir.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A valsa do óbvio

E de volta ao seu início, o cansaço da espera fustigava os sentidos, e a consciência do círculo de suas emoções entorpecia qualquer ânsia, também repetida.
Algumas experiências inéditas, e uma nova maneira de olhar o mundo, faziam-na esquecer, que eram os mesmo pés que marcavam o caminho, e os mesmos olhos que abraçavam o então desconhecido.
Sempre era repetida.
E com o coração em pedaços, tinha por conforto, a imagem de todos os outros no que agora se foi.
Eles repetiam-se.
E o desespero a rasgar-lhe o peito, o silêncio a empestiar a garganta.
A covardia era repetida.
A correria, a fuga mal dirigida, os acasos que a fazaim sorrir, era por eles que depois sentia tanta nostalgia.
Mas comumente, ora ou outra, eles repetiam-se.
E a vida de rotinas e obrigações, e as drogas baratas, e os vícios de consumo, e as noites mal dormidas, e o peso de seus amores, e a delícia de seus gozos. Tudo isso prendiam-na na cratera, no buraco em que fora parida, na escuridão de seus olhares, na desistência de suas tentativas.
Repetida fora a hora em que acostumaram-lhe a repetir o mantra dos desajustados.
Assim repetiu-se por toda a sua vida.


Recomendo a leitura desse texto ao som de "Fall:Cleaning Apartment" da trilha sonora de "Requiem for a dream"

domingo, 29 de agosto de 2010

Sonhos

E ela acreditava que estava am outro lugar, com aquela música francesa em primeiro plano, as luzes apagadas, podia se imaginar valsando languidamente em alguma paisagem magnífica e ocre como nos filmes.
Não que gostasse de clichês, mas pelo menos na sua imaginação, achava neles uma boa maneira de fugir de sua realidade tão distante da dos demais.
Ela sonhava e sorria, em seu quarto escuro, com sua música de palavras belas e incompreensíveis, quase abafando o som dos gritos, das buzinas, dos socos, das súplicas , quase abafava os soluços que sem perceber tremiam seu franzino corpo.
E ela dormia sonhando para acordar depois de um pesadelo.
E enfim, a realidade a resgatava.
Era novamente refém de sua verdade.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Sobre gatos

Tem um poema do Baudelaire, que fala sobre gatos, sobre a leveza, a graça e a beleza deles, e sobre como apenas na morte, eles perdem seu encanto.
Gosto mais de animais do que de pessoas, e gosto muito mais de gatos do que de pessoas.
Animais não envenenam, não chutam, não atropelam, não se vingam, não matam se não for para comer.
Animais não xingam, não descontam, não são vulgares e não são burros.
Pessoas só gostam de si próprias e veem no próprio umbigo a justificativa necessária para esquecer a maldita moral que criou.
Pessoas são vulgares e burras.
Pessoas são falsas, e não sentem sentimentos puros, são híbridas de desejo, necessidade e causalidade.
Pessoas são tão ruins que se acham boas demais para tudo o que não lhe diga respeito, e se não lhes interessam que exploda.
Pessoas usam de sua racionalidade para serem irracionais.

Entre miados, latidos, uma prece e uma poesia, fico com as de natureza simples e verdadeira.
E espero calmamente, como pessoa suja que sou, que a Hamurabi esteja certo, e aquilo que se toma seja cobrado na mesma altura.
Olho por olho, inocência por inocência.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Aparecida

Não venho com esse post criticar a religião alheia, ou me reter a julgamentos individuais. Está aqui, um retrato simples de um dia, e as conclusões, que como ser pensante me dei a liberdade de ter.
Sábado, 5h20m da manhã, estávamos a caminho de Aparecida do Norte. Não queria ir, não tenho religião, e nem acho proveitoso um sábado assim, mas enfim, o mundo é o das impressões mesmo.
Chegamos, na fila para PAGAR a entrada na cidade dos milagres o que vejo é um parque de diversões, um aquário (como levaram os peixes até lá?) e a igreja enorme. Parece um estúdio de gravação, com vários cenários jogados aqui e ali, ou o Hopi Hari, com suas cidades e seu caro passaporte.
Entramos. A igreja realmente é grande, e fervem pessoas dela, muitas pessoas, de todos os tipos. Mas antes da missa, um pequeno passeio no centro da cidade.
Para chegar lá, é necessário passar por uma enorme passarela, onde muitas pessoas cumprem promessas e a atravessam de joelhos, o meu, andando, já doía. Algumas ruas tem direções, que nem boi no matadouro.
No centro. Juro, que se eu vi um nativo da cidade, ele tava disfarçado de turista. Só há hotéis no centro, e não é exagero, hóteis e lojas, nada mais. Nas lojas, de crucifixos à brincos, de água santa à aguardente. As pessoas se empurram, xingam umas as outras e disputam lugar nos restaurantes, que, as 8 da manhã, já tinha funcionários oferencendo quentinhas.
Voltando para a igreja enorme, de novo aquela passarela, um quiosque onde você compra 600ml de água benta, devidamente engarrafada, outro onde você pode comprar vela de metro, perguntei se era pra deus ver você mais que os outros, me disseram que não.
Na missa tudo lotado, pessoas sentadas em todos os lugares, e a voz do padre vindo de miteriosos alto-falantes. Nos sentamos no chão. As pessoas não rezam , ficam se distraindo com um monte de coisas, o padre fazendo ora ou outra propaganda da TV Aparecida, cada um no seu mundo particular, acordando de seus devaneios apenas na hora do famoso pai nosso.
Depois da missa um passeio pelo resto da igreja, que conta com praça de alimentação, sala dos milagres, onde as coisas mais incríveis estão lá, doadas por pessoas de fé, e um quiosque para encomendar missa. Apesar de não ter religião, tenho falecidos, e a supertição me levou até lá, porém, como não tinha nada a oferecer a Jesus (muita mesquinhice minha), não encomendei a missa, acho que ela não ia fazer ninguém ressucitar mesmo.
De volta à cidade, vamos às compras. Agora vejo nativos na cidade, estão empoleirados no morro, na favela, atrás da feirinha de bugigangas, que, por incrível que pareça é mais diversificada que no centro.
Almoço lotado porém faustoso.
Na sesta a decisão de realizar a "via-crucis", meus joelhos me olham tristes, mas ok. Novamente nativos, mais uma favela, mais uma feira, mas essa cheira a urina.
Chegando no caminho da "via-crucis", muita ladeira pra andar, quinze imagens da história de Jesus, com uma música de dor de barriga santa ao fundo, debaixo do sol das 13h. A última imagem, é no alto da montanha, que dá visao para além da cidade, um cenário natural. Nesse lugar se encontram uma cruz enorme, um tipo de caixão e, é claro, uma lanchonete para você se refrescar.
Depois disso, fim

Considerações:
Foi um dos piores lugares que eu já vi na minha vida, onde exploram a fé das pessoas. Tudo naquele lugar é uma mina de ouro. Praça de alimentação dentro da igreja??? O que vendem lá? Corpo de cristo? Por favor né... Quiosque de água santa, de vela santa, de papel de santo santo, de imagem santa. os moradores da cidade moram na favela, mal vi escolas naquele lugar, as pessoas vivem exclusivamente de comércio, sem sustento intelectual ou fabril. Onde quer que se vá, a fé está nas vitrines, está nas mastigação das pessoas, está nas roupoas baratas que compram na feira, no sorvete de Itu. Vendem, literalmente a religião, e a fé naquele lugar.
Fazendo a tal da "via-crucis", depois de andar muito, simbolizando o caminho de Jesus, no final do caminho, uma lanchonete? Com certeza foi exatamente isso que Jesus encontrou, e ele só ressucitou porque injetaram coca-cola na veia dele, e a cafeína demorou três dias pra fazer efeito. Por favor, respeitem não o meu esforço, a minha fé, porque ela não está naquele lugar, mas a de todo mundo que está ali.
Foi muito interessante ver, que no final do caminho, a compaixão, ou seja lá quais forem as virtudes de um bom cristão, se refletiam nas costelas de dois cachorros aparentemente mortos do lado da cruz, mortos de fome gente! Não faz sentido uma coisa dessa.
Pra mim, a única utilidade de toda essa viagem foi me provar, que, caso exista alguma divindade nesse mundo, ela está além dessas invenções toscas para exploração, ela está além daquela cidade, ela está na paisagem que o alto daquela montanha me proporcionou, de outras montanhas, essas verdes e naturais. A utilidade da cidade, foi destruir a discutível divindade natural. A cidade em si é horrível, suja, poluída, com morros pra todos os lados, morros que antes eram montanhas, que caso os cristão estejam certos, foi deus quem fez. Cade o sentido nisso tudo? Cade deus nas cédulas que são exigidas para que ele goste de você?
Fé não se vende, se explora, e Aparecida do Norte é o melhor de todos os lugares para isso.
Aos que eu ofendi meus perdões, que tenham uma boa estadia a próxima vez que visitarem a cidade.

sábado, 24 de julho de 2010

Refrão de bolero

Eu que falei nem pensar
Agora me arrependo roendo as unhas
Frágeis testemunhas
De um crime sem perdão

Mas eu falei sem pensar
Coração na mão, como o refrão de um bolero
Eu fui sincero
Como não se pode ser

Um erro assim tão vulgar
Nos persegue a noite inteira
E quando acaba a bebedeira
Ele consegue nos achar

Num bar,
Com um vinho barato
Um cigarro no cinzeiro
E uma cara embriagada no espelho do banheiro

Ana
Teus lábios são labirintos
Ana
Que atraem os meus instintos mais sacanas
O teu olhar
Sempre distante, sempre me engana

Eu que falei nem pensar
Agora me arrependo roendo as unhas
Frágeis testemunhas
De um crime sem perdão

Mas eu falei sem pensar
Coração na mão, como o refrão de um bolero
Eu fui sincero
Como não se pode ser

Um erro assim tão vulgar
Nos persegue a noite inteira
E quando acaba a bebedeira
Ele consegue nos achar

Num bar

Ana, teus lábios são labirintos,
Ana
Eu sigo a tua pista todo dia da semana
Eu entro sempre na tua dança de cigana

Ana, teus lábios são labirintos,
Ana
Que atraem os meus instintos mais sacanas
E o teu olhar sempre distante sempre me engana
"Iê-iê" Eu sigo a tua pista todo dia da semana

Todo dia, todo dia da semana
Eu sigo a tua pista todo dia da semana
Ana
O que eu falei foi sem pensar
Foi sem pensar!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Quer saber?

acredito muito mais na minha solidão, do que na "verdade das almas que se amam"...

terça-feira, 6 de julho de 2010

As vezes, só de vez em quando mesmo, me recordo dos dias que foram bons. Sabe? Dias de felicidade reconhecida. Não que eu não tenha bons dias hoje, mas é diferente. Antes havia a novidade, a entrega, o espanto diante de coisas que hoje já não sei valorizar.
Quando, eventualmente, assim, sem querer, me deparo com as fotografias de uma época tão recente, me sinto como se olhasse um álbum dos anos 60, repletos daquelas fotos, onde não se entende o conteúdo delas, mas que não há dúvidas quando a sinceridade estampada em cada uma delas.
Não sei, os tempos mudam, tenho que me habituar com isso. Me pergunto qual a parcela de mim que mudou.
Olha para os lados e não vejo nada que antes me rodeava, é estranho9, é vazio. Agora, devido uma série de acontecimentos, desmereço, em sua maioria, os dias desse passado tão próximo, mas como já disse, quando sem querer, olho algumas daquelas fotos, o eu que lá está estampado se recusa a aceitar a verdade dos fatos.
Acabou.
Tudo são fases, e apenas espero, que possa ter a oportunidade de viver dias tão bons quanto eu vivi, e que depois, quando talvez tudo se acabar novamente, eu não venha rancorosamente querer destruir o que passou.
Mas o dia de amanhã ainda não cabe a mim decidir, e dos que se passaram, apesar de racionalmente me renegar a aceitá-los, sei que uma coisa mole e idiota que eu tenho em algum lugar que ainda hei de descobrir onde pára destruir, nunca me permitirá esquece-los.
Quem sabe dessa vez, não consigo dar adeus?

domingo, 30 de maio de 2010

Sobre balões e quermeses

Uma das minhas lembranças mais nostálgicas, sou eu e meu pai, na quermese do Rudge Ramos. Era tradição. Ele ia buscar eu e minha mãe na casa da minha avó, e parávamos na quermese, minha mãe ia direto pro bingo, e eu e ele íamos na barraca dos espetinhos. Lembro-me do cheiro da carne, da barraca de latão vermelho, dos atendentes, já amigos do meu pai, que me sorriam e sempre me davam um boné também vermelho. Eu era muito pequena, então subia nos pés de meu pai para pelo menos espiar o que tinha além daquele muro de vermelhidão. Quando chegava nossos espetinhos os comíamos cheios daquela farinha. Mal saciava minha fome e eu já olhava fixamente para os balões. Ah!Eram balões tão grandes, coloridos, de estrelas, corações, redondos, bexigas normais e em esculturas, tantos balões... Tinha fascínio por eles, e acho que todas as crianças tem.
Então íamos buscar minha mãe com seus recém adquiridos utensílios domésticos e depois de um refrigerante e uma maçã do amor que eu nunca comia inteira, chegava a hora tão esperada.
Não sei porque, sempre me pegavam no colo pra que eu escolhesse meu balão, mas eu já havia decidido qual era havia tempo. Sempre preferia aqueles prateados, com um cheiro esquisito, e que faz um barulho engraçado se o apertamos. Então amarravam o balão no meu pulso, se era o meu pai bem forte pra que não escapasse, se era minha mãe bem fraco pra não me machucar, o que fazia o balão escapar.
Voltávamos para o carro,e fim de mais uma noite na quermese. Assim passávamos todo o mês de maio e junho.
Mas o melhor , era quando no final de junho, eu ia abrir meu armário, e dele escapavam inúmeros balões prateados, que por um momento me envolviam e ficavam no teto do meu quarto. Pra mim a quermese duraria, enquanto eles estivessem naquele armário.

E sempre que vou ou volto da casa da minha vó (agora de ônibus), e vejo aquelas barracas, sinto aquele cheiro, me vem essa nostalgia. Vejo naquelas crianças a criança que eu era, e na cara emporcalhada de gordura a satisfação de não saber nada sobre o amanhã.
E quando eventualmente, vou à quermese com a minha mãe e meu irmão, sinto aquela ansiedade ante algo que esperamos por muito tempo, porém, quando chego, me revolto com o preço do churrasco, nunca ganho nada no bingo, nem tenho paciência para isso, fico monologando sobre o desrespeito de vender yakissoba numa festa de comidas típicas. Fico lá me remoendo sobre os pré-adolescentes que vão afim de se embebedare com vinho quente, e flertar uns com os outros, fico vendo os pais que não dão a mínima para o estupor de seus filhos, fico observando que o tamanho das barracas de lata diminuiu. Mas eu sei que lá no fundo, o que dói, porque dói mesmo, é que não tenho mais aqueles pés que usava para ver o interior das barracas, que agora eu cresci e enxergo sem apoio nenhum , que não tem mais farinha para por no espetinho e que os balões... os balões são cheios de gás hélio e nada mais. A minha inocência definitivamente se perdeu, e acho que foi quando o apoio dos pés que já não necessito hoje, desapareceu, fazendo com eu só enxergasse aquele latão vermelho.

terça-feira, 18 de maio de 2010

O Senhor dos Anéis


Não sei se é ou não interessante aos que talvez leiam meu blog, mas sempre tive vontade de postar sobre livros que leio. Hoje se encontra muito blogs sobre filmes, que são muito bons em sua maioria, mas acredito que livros, além de terem sido deixados de lado, tem uma visão mais pessoal do que filmes (acho que pela parte áudio-visual ser apenas sua imaginação).

Pra começar, sendo muito clichê: A trilogia do Senhor dos Anéis (é que eu acabei de lê-la e estou um puco triste por isso). Sou apaixonada por esses livros e é a terceira vez que os releio. Tem uma leitura difícil, as vezes cansativa, pra quem não é muito acostumado a descrições, mas é tudo uma questão de se permitir entrar na história.
Os personagens são muito carismáticos, tem personalidades habilmente traçadas e diversificadas, é como se eles realmente existissem, de uma maneira muito mais psicológica do que física, pois, apesar do Tolkien se reter muito a descrições, não o faz quanto a aparência dos personagens, dando apenas idéias vagas, como a beleza dos elfos, a aparência cansada e altiva de Aragorn, e o brilho e poder de Gandalf, fica a critério de cada um imaginar o físico deles mesmo, ou imaginá-los como no filme mesmo, coisa que eu não consigo.
O enredo do livro é complicadíssimo, onde várias histórias de entrelaçam com a história dos Anéis de Poder. Só consegui entender melhor os acontecimentos, sobre Aragorn e sua majestade por exemplo, lendo o Silmarillion, onde o Tolkien explica a origem da Terra Média, dos elfos, anões e homens. É a minha próxima releitura.
Mas ao mesmo tempo que é de difícil entendimento o por quê da história, o autor usa de sentimentos e emoções simples, para livrar os personagens de seus conflitos. É uma história intrincada e detalhada, cheia de lições de maral à se aprender, o que, no contexto geral do livro, não fica forçado ou chato.
Mas sou suspeita pra falar sobre essa obra.
O genêro fantasia me agrada muito, e talvez, o que seja mais fascinante na obra, é a maneira como o leitor é facilmente transportado para a Terra Média, usando imagens das paisagens que já conhece, sobrepondo aqueles que o autor descreve, pelo menos comigo acontece isso; Valfenda me lembra uma cidade do interior de Minas, que fui com a minha vó, só que muito mais nobre, com pessoas mais bonitas; o Condado é como qualquer cidade do interior de São Paulo, só que com pessoas grandes. É simples se localizar nas paisagens do livro, e se sentir personagem nele(quando a paisagem não são florestas com árvores que falam, é claro).
Recomendo e muito a leitura desse livro, e recomendo ainda mais a releitura, pois só relendo-o que pude começar a observar várias sutilezas, e apenas o lendo mais uma vez, vou perceber muitas outras.

sábado, 15 de maio de 2010

Como olhos de lagarto


Acho que todo mundo já pensou, pelo menos uma vez, que se fosse louco seria melhor. Eu pelo menos sempre penso sobre isso. Acho a loucura uma das melhores(e verdadeiras), fugas da realidade; é a única maneira "real" de faze-lo. É claro que têm loucos violentos, assassinos, aterrorizados por visões, mas acredito que são assim por uma questão de ambiente ou infância. Sempre há influências, louco ou não, por memórias e locais.
A loucura é uma maneira de auto-conhecimento também. Para sermos normais, precisamnos trabalhar, estudar, ter amigos, família, usar roupas, ter hobbies, vícios, virtudes e defeitos, que nos enquadram de alguma forma à sociedade. Tendo tudo isso para fazer, sem contar as emoções, a tpm, o cansaço, a moral; que tempo viável há, para sermos quem somos de verdade?
Sempre me pergunto, se eu fosse louca o que eu faria. E nunca consegui me separar completamente dos meus conceitos de normalidade.
Descobri outro dia que esquizofrênicos não são simplesmente loucos, a esquizofrenia destrói tecidos cerebrais que com o tempo fazem o esquizofrênico ter alucinações, ouvir vozes, e todas as outras fobias relacionadas. Meu primeiro raciocínio sobre isso é que quando nascemos nosso cérebro é bem pequenininho, e as camadas cerebrais que são destruídas pela doença é aquilo que foi acresentado enquanto crescíamos... mas sei que não faz sentido, se fosse assim, as pessoas teriam tamanhos variados de cérebro. Mas e se o cérebro tivesse um limite de regras e padrões para ser adicionado a ele? Isso explicaria muitas divergências culturais. É, acho que eu estou viajando um pouco...

É o que acontece quando eu tenho vontade de fazer coisas que não posso. Se eu fosse doida eu poderia.

Eu imagino que a loucura é um mundo paralelo, só seu. O louco fica entre os dois mundos, como olhos de lagarto, que olham para várias direções ao memesmo tempo.
O cérebro é a maior caixa de sapatos que temos, sem dúvida, e ser louco deve ser abrir sua caixa, se ninguém vê o que se põe pra fora é porque a caixa dos olhos também está trancada. Resta saber como abri-la só um pouquinho...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Pessoalidades

Ok,

O primeiro post, acho interessante ir pra utilidade do blog.
Nesse blog quero ter a liberdade que não me permito ter no outro. Não sei por que, não consigo quebrar as regras que fiz sobre o meu outro blog. Acho que é uma questão de orgulho até. Aquele é dedicado estritamente a trabalhos escritos meus, por pior que sejam, eu penso, reflito, escrevo, reescrevo; tem todo um trabalho de criação por trás das postagens. E na verdade essa é a proposta do blog, publicar textos que eu tento bem escrever.
Mas, tenho sentido muita vontade, e muita falta de escrever assim, em primeira pessoa. Em primeira pessoa, sem ser um eu-lírico, falar bobeira, escrever sobre o dia, jogar um pensamento, e principalmente, desenvolver essa idéia sobre caixas que está me perseguindo, mas que ainda não tem muita forma.
Acho que é isso, é um blog sobre generalidades de Bia e do mundo através dos meus olhos, e dos olhos de quem eu resolver colocar aqui. Poderia dizer que é até pessoal, sem que eu esteja com a mínima vontade de expor alguma coisa.
Bem, veremos...