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domingo, 30 de maio de 2010

Sobre balões e quermeses

Uma das minhas lembranças mais nostálgicas, sou eu e meu pai, na quermese do Rudge Ramos. Era tradição. Ele ia buscar eu e minha mãe na casa da minha avó, e parávamos na quermese, minha mãe ia direto pro bingo, e eu e ele íamos na barraca dos espetinhos. Lembro-me do cheiro da carne, da barraca de latão vermelho, dos atendentes, já amigos do meu pai, que me sorriam e sempre me davam um boné também vermelho. Eu era muito pequena, então subia nos pés de meu pai para pelo menos espiar o que tinha além daquele muro de vermelhidão. Quando chegava nossos espetinhos os comíamos cheios daquela farinha. Mal saciava minha fome e eu já olhava fixamente para os balões. Ah!Eram balões tão grandes, coloridos, de estrelas, corações, redondos, bexigas normais e em esculturas, tantos balões... Tinha fascínio por eles, e acho que todas as crianças tem.
Então íamos buscar minha mãe com seus recém adquiridos utensílios domésticos e depois de um refrigerante e uma maçã do amor que eu nunca comia inteira, chegava a hora tão esperada.
Não sei porque, sempre me pegavam no colo pra que eu escolhesse meu balão, mas eu já havia decidido qual era havia tempo. Sempre preferia aqueles prateados, com um cheiro esquisito, e que faz um barulho engraçado se o apertamos. Então amarravam o balão no meu pulso, se era o meu pai bem forte pra que não escapasse, se era minha mãe bem fraco pra não me machucar, o que fazia o balão escapar.
Voltávamos para o carro,e fim de mais uma noite na quermese. Assim passávamos todo o mês de maio e junho.
Mas o melhor , era quando no final de junho, eu ia abrir meu armário, e dele escapavam inúmeros balões prateados, que por um momento me envolviam e ficavam no teto do meu quarto. Pra mim a quermese duraria, enquanto eles estivessem naquele armário.

E sempre que vou ou volto da casa da minha vó (agora de ônibus), e vejo aquelas barracas, sinto aquele cheiro, me vem essa nostalgia. Vejo naquelas crianças a criança que eu era, e na cara emporcalhada de gordura a satisfação de não saber nada sobre o amanhã.
E quando eventualmente, vou à quermese com a minha mãe e meu irmão, sinto aquela ansiedade ante algo que esperamos por muito tempo, porém, quando chego, me revolto com o preço do churrasco, nunca ganho nada no bingo, nem tenho paciência para isso, fico monologando sobre o desrespeito de vender yakissoba numa festa de comidas típicas. Fico lá me remoendo sobre os pré-adolescentes que vão afim de se embebedare com vinho quente, e flertar uns com os outros, fico vendo os pais que não dão a mínima para o estupor de seus filhos, fico observando que o tamanho das barracas de lata diminuiu. Mas eu sei que lá no fundo, o que dói, porque dói mesmo, é que não tenho mais aqueles pés que usava para ver o interior das barracas, que agora eu cresci e enxergo sem apoio nenhum , que não tem mais farinha para por no espetinho e que os balões... os balões são cheios de gás hélio e nada mais. A minha inocência definitivamente se perdeu, e acho que foi quando o apoio dos pés que já não necessito hoje, desapareceu, fazendo com eu só enxergasse aquele latão vermelho.

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